quarta-feira, 15 de julho de 2015

A única menina do mundo que deu nome a um planeta

Plutão, o planeta que parece maior do que se pensava e por isso talvez deixe de ser anão, tem o nome de um deus romano porque uma menina inglesa gostava da mitologia.

Era o planeta X até Venetia Burney, de 10 anos, dizer ao avô que aquela massa fria e escura do sistema solar se devia chamar... Plutão. No idioma dela, inglesa de Oxford, e em grego escreve-se Pluto, o planeta que esta terça-feira, pela primeira vez, está a ser visto de perto, a "escassos" 12.500 quilómetros de distância.

Venetia era uma menina interessada na mitologia grega e romana e, pelo lado do avô materno, em astronomia. Foi, aliás, Falconer Madan quem lhe falou na descoberta de um novo objeto nos céus e a transformou em madrinha de um dos planetas mais misteriosos para os humanos, até agora...

Até 2006, Plutão era considerado o nono planeta do sistema solar, mas foi desclassificado, para grande mágoa de Venetia. A massa de rocha e gelo passou a ser considerada um "planeta anão", nesse ano, o mesmo em que foi lançada a sonda que esta terça-feira pôs a Nasa em festa por, ao fim de nove anos e meio, se aproximar do seu alvo de estudo.

"Devido à minha idade, mantive-me uma boa parte do tempo indiferente ao debate, mas preferiria que permanecesse um planeta", disse, aos 87 anos, numa entrevista à BBC, Venetia Venetia Phair, que antes contara: "Consigo visualizar a mesa e a sala, mas lembro-me muito pouco da conversa. Sei que o meu avô ficou impressionado com o nome de Plutão".

A sonda norte-americana batizada de "News Horizons" (Novos Horizontes) viajou primeiro a bordo do foguete Atlas, até chegar a Júpiter, onde fez da gravidade uma fisga para se lançar no espaço a alta velocidade. Percorreu quase cinco mil milhões de quilómetros a 49.570 km por hora, porém, as suas comunicações com a Terra demoram "apenas" quatro horas e meia a chegar.

Os habitantes do nosso mundo ainda vão ter de esperar para observar mais fotos e vídeos de Plutão. A Novos Horizontes só voltará a dar notícias, a telefonar para casa como dizem os seus criadores, esta quarta-feira. E os cientistas envolvidos aguardam com alguma ansiedade essa "conversa", já que o espaço bate o futebol quando se fala em que tudo pode acontecer.

Mas já foi divulgada a primeira fotografia tirada pela câmara de alta resolução Lorri ("Long Range Recconnaissance Imager"). "Neste momento, as imagens revelam apenas que Plutão é um planeta realmente esquisito. Tem algumas áreas muito escuras, outras extremamente claras, e não sabemos nada sobre o que são ainda", afirmou John Spencer, do Southwest Research Institute do Colorado, um dos parceiros da Nasa nesta missão, citado pela BBC.

UMA DESCOBERTA COM 85 ANOS


e agora é esquisito, imagine-se quando foi descoberto pelo astrónomo norte-americando Clyde Tombaugh, na peugada de Percival Lowell, fundador do observatório com o seu apelido, localizado no Arizona, desde 1894. As primeiras fotos foram captadas em janeiro de 1930, mas só foi anunciada oficialmente em 13 de março de 1930, no dia seguinte o diário inglês "The Times" deu a notícia que o avô de Venetia lhe leu ao pequeno-almoço.

 Falconer Madan, bibliotecário da Universidade de Oxford, era amigo do astrónomo Herbert Hall Turner, que por sua vez telegrafou a ideia da menina aos colegas americanos de Lowell. O observatório abrira um concurso, recebeu mil sugestões, todavia a de Venetia ganhou a votação interna, por unanimidade. No dia 1 de maio, deu-se o batismo oficial, o planeta X passava a chamar-se Plutão.

 Em casa de Vanetia não caiu do ar esta ideia de batizar descobertas na via látea, era já uma aptidão de família. O seu tio avô Henry George Madan, o irmão de Falconer, tinha sugerido, e conseguido que seguissem a sugestão, dois nomes para os satélites de Marte recém-descobertos (em 1887): Deimus (Deimos) e Phobus (Fobos).

 A madrinha de Plutão, filha de um reverendo que morreu cedo, não seguiu astronomia, estudou matemática e tornou-se professora e contabilista. Em 1987, ganhou um asteroide com o seu apelido de solteira, em sua honra o 6235 foi batizado de Burney.

 No ano de 2006, Venetia ainda assistiu ao lançamento da Novos Horizontes, mas foi um ano triste para si devido à morte do marido, Edward Maxwell Phai, professor de Clássicas, com quem esteve casada quase seis décadas. Três anos depois, foi a sua vez de partir, tinha 90 anos, estava a quatro meses de fazer 91.

 Venetia Burney é um dos 434.738 nomes que seguem no CD colocado a bordo da sonda "News Horizon", e que são os de quem respondeu ao apelo da Nasa e ganhou um certificado por isso. Online, pode verificar-se que nomes constam da lista, onde claro não faltam os presidentes americanos e os cientistas ligados à missão, tirando alguns mais novos.

Na sonda que de facto abre novos horizontes, viajam também duas bandeiras americanas e as cinzas de Clyde Tombaugh, que morreu com 90 anos mas contava apenas 24 quando vislumbrou na escuridão do céu um planeta até então desconhecido.

 AFINAL, NÃO É TÃO ANÃO COMO SE CALCULAVA

A partir dessa altura, iniciou-se o debate à volta do planeta com o nome do deus dos mortos para os romanos. Esta terça-feira, deu-se um passo para arrumar este assunto. Afinal, o "planeta Anão" é ligeiramente maior do que se pensava - 2.370 quilómetros de diâmetro. Mais uma vez se prova não ser aconselhável fazer juízos precipitados.

Votará a ter a categoria de Planeta, sem mais?
 "O tamanho de Plutão tem sido debatido desde a sua descoberta em 1930. Estamos muito entusiasmados por acabarmos definitivamente com esta questão", disse um dos cientistas desta missão, Bill McKinnon, da Universidade de Washington de St. Louis.

 Nunca Plutão foi vista por humanos tão de perto como a "News Horizon" está a proporcionar. "Sabíamos desde o momento em que projetámos o voo que só seria capaz de estudar as pequenas luas em detalhe por apenas alguns dias antes da maior aproximação", disse Alan Stern, investigador principal da missão.

"Agora, profundamente dentro da esfera de influência de Plutão, chegou a hora", desabafou Alan Stern, no final das comemorações que, pela manhã desta terça-feira, ocuparam a Nasa quando a sonda de 700 milhões de dólares (635 milhões de euros) deu sinais de vida revelando os primeiros detalhes sobre Plutão.

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